domingo, 29 de junho de 2014

2ª visita

Olá meus queridos.

Hoje foi o dia da 2ª visita. Que dia incrível. Eles liberaram a TV na hora do jogo, torcemos juntos pela Seleção. Que jogo bem sofrido. Ta loco. Mas vencemos \o/ Julio Cesar é o cara. hehe

Conversamos bastante, namoramos bastante. Foi muito bom.

No início ele não parecia muito bem. Meio abatido, cabisbaixo. Mas depois fomos conversando. Ele foi contando que teve uma semana difícil, com inflamação num dente, e estava bastante gripado, e a psiquiatra tinha alterado as doses das medicações. Leva um tempinho para se adaptar.

Na verdade, ele ainda está totalmente em fase de adaptação. São 9 meses, e ele está lá a, apenas, 53 dias. É um período bem complicado.

Contei para ele meu sonho, de que ele tinha me ligado e dito que estava em casa. Ele me disse, olhando bem nos meus olhos, que muitas vezes sente vontade de sair, sim, e ir pra casa, ficar mais perto de mim e da filha dele, trabalhar, mas que ele NÃO VAI FAZER ISSO. Ele está bem ciente que está recém se adaptando com a medicação e o tratamento, e as regras, e se de repente parar com tudo, aí sim, vai acabar com tudo.

Todo mês tem alguém terminando o tratamento na Comunidade Terapêutica. Então, toda a visita, tem um momento de graduação, onde nós cantamos, oramos, tem espiritualidade, tem depoimentos, entrega de certificados, e uma palavra de algum dos profissionais de lá.

O terapeuta, um cara super gente fina, e engraçado também, comentou sobre a história de uma mãe que lidava há uns 4 anos, com 2 filhos usuários de crack, que faziam e aconteciam dentro de casa. Num dia em que eles não acordavam para ir ao colégio, ela, no auge de sua codependência, enxeu dois baldes de água e derrubou um encima de cada filho. Os dois agarraram ela, atiraram ela no chão, jogaram água encima dela também, e disseram: aqui dentro a gente faz o que a gente quiser, aceita que dói menos. Ela foi à consulta com ele, logo no mesmo dia, desesperada. Ela fez exatamente o que ele disse: No mesmo dia, enquanto eles estavam fora, trocou todas as fechaduras da casa, reforçou as janelas, fez uma trouxa com todas as coisas deles e deixou na casa do pai deles. Quando perceberam o que ela tinha feito, ligaram pra ela, xingando: Você ficou louca? E ela só disse: Aceita, que dói menos. Eles passaram uma noite na rua, e voltaram bem calminhos, pedindo perdão.

A assistente social também falou algo muito interessante, a respeito de atitudes inoportunas em lugares inoportunos. Comparou uma mulher que entra de biquíni numa igreja do Silas Malafaia. Totalmente inoportuno. Assim também, o cara que ta lá, fazendo o tratamento, completa os 9 meses, beija e abraça todo mundo em casa, põe o pé na rua e vai direto pra boca. Totalmente inoportuno. Então, se o adicto ta lá, esteja lá, e aproveite. "Fica e se trata", como eles mesmo dizem pra quem ta pensando em desistir. O cara passou por tantos passos para esta lá dentro. Então, fica e se trata.

Graças a Deus, meu amado quer e acredito que vai ficar, e se tratar.

Hoje, numa de nossas conversas, comentei com ele o caso de uma amiga minha que está namorando há pouco tempo com um adicto. Mas ele é usuário desde antes mesmo de eles estarem juntos, então, desde o início ela vem enfrentando essa dor. Ele faz todo tipo de chantagem, diz que vai parar, e não pára, diz que vai morrer se ela não quiser mais ele. Mas ainda está na fase de negação. Não aceita que tem uma doença e acha que pode parar, sozinho.

Perguntei o que ele achava que eu deveria ter dito a ela. 

Ele me disse: Diz pra ela larga esse cara logo, antes que ela fique doente também. O cara só ta manipulando ela. Eu sou um adicto, eu sei, eu já fiz isso. O cara não vai tira a própria vida por causa de uma mulher.

E eu perguntei: E se alguém dissesse isso pra mim, tu acha que eu deveria te largar? 

E ele disse: Eu acho que deveria. (falou se rindo) 

E eu respondi: Não tem como a gente dizer pra outra pessoa o que ela deve fazer. Às vezes, terminar o relacionamento pode funcionar pra alguns, mas pra outros, não.

No nosso caso, quando nos separamos por duas semanas, em fevereiro, as coisas só pioraram. Ele se afundou como nunca, e eu entrei numa depressão profunda, em que não comia, não dormia, não trabalhava, só queria morrer. Até hoje, quando me lembro, me dá dor de estômago.

Até que ponto você está disposto a ir?? Cada um deve decidir por si. Cada um tem o seu limite. Cada um deve escolher aquilo que é melhor pra si. A única coisa que podemos fazer é orar pelo outro e compartilhar nossa experiência.

Nossa conversa foi tão rica hoje. Mas ele me disse uma coisa que foi bem dura de ouvir. Que eu sou um tipo de pessoa muito perigosa para um adicto, porque sou muito condescendente, às vezes ingênua, que faço todas as vontades dele. Foi aí que eu percebi como é difícil pra ele entender a minha doença. Entender que eu também adoeci, e que também preciso de ajuda, tanto quanto ele. 

Eu estava comentando, até a mãe dele também, como tem sido complicado pra mim, me desligar emocionalmente e fazer as minhas coisas. 

E ele disse: Mas tu não precisa se preocupar tanto, porque eu vou sair daqui bem, e vou cuidar de ti, e aí tu vai ficar bem também. 

Você vê?? Ele mesmo já comprou minha conversa doentia. Só que não são assim que as coisas funcionam. Porque se uma hora ele cair, eu vou cair junto. Pode até não ser uma recaída nas drogas, eu digo na vida mesmo. A vida é tão cheia de altos e baixos, e ele sofre de depressão, a família inteira dele, de pai e de mãe; tem essa doença. Imagina se eu depositar tudo encima dele. É um peso que ele não pode e nem deve carregar. Ninguém deve carregar o peso da felicidade do outro em suas costas. Nem a família, nem o adicto.

Falei tudo isso pra ele. Disse que eu tenho que procurar coisas e momentos que me completem e me façam feliz, sem depender dele. Não sei se ele entendeu direito. Porque foi um discurso beeem diferente do que eu vinha fazendo há uns meses atrás, obviamente. 

Nós dois temos uma longa caminhada. Como eu já vinha falando, eu conheço os passos, mas ainda estou engatinhando. E agora, que passou mais uma visita, meu coração fica tão apertado só em pensar que tem que esperar mais um mês para vê-lo novamente. Fico meio sem chão nos primeiros dias depois da visita. Sinto falta dele, todos os dias.

Mas a vida continua aqui fora.

Agora que minhas aulas acabaram (por falar nisso, passei em todas as cadeiras), vou ter mais tempo pra me focar em mim mesma. Acho que essa semana vou me dar ao luxo de ir ao cinema. Tem um filme que eu quero muito ver. (A culpa é das estrelas).

Vou me despedindo. Posso dizer que o coração está com um pouquinho mais de esperança.

Fiquem bem.
Fiquem com Deus.

3 comentários:

  1. o que dizer? ele já disse tudo, pode não dar certo ou não ser o caminho igual pra todos, mais se existe uma verdade e essa arrisco a dizer que seja uma das maiores verdades nesse mundo é que só se aprende na dor e só podemos salvar a nós mesmos, um adicto que queira parar de verdade e um codependente que queira de fato ficar de pé, não irá apoiar sua recuperação em ninguém, por isso nega aquela velha história quem quer faz, quem não quer arruma desculpa...é dificil é...mais é o único caminho, vc já está caminhando...continue firme e forte dói as vezes olhar no espelho e perceber que pra ficar de pé eu não posso contar com ninguém a não ser comigo mesma e Deus..um grande abraço e que o poder superior possa fortalecer a vc e a seu namorado...força..fé e esperança, SPH

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    1. É verdade Kel. Quem quer, dá um jeito, doa o que doer. Obrigada por suas palavras. Que Deus te abençoe sempre também. Beijos.

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  2. E ACREDITE DEUS NUNCA NOS ABANDONA NEM NOS PIORES MOMENTOS :)

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