Minha última postagem aqui foi dia 01 de Outubro.
Meeuu Deus, quanta coisa aconteceu nesses últimos meses. Ou melhor dizendo, quanta coisa aconteceu neste ano todo.
Me lembro que lá na virada do ano, quando tudo estava tão bem, aparentemente, pensei que seria um ano bom, um ano tranquilo, mas o mundo gira, e não sei se posso dizer que girou muito a meu favor.
Só para começar a listar: Troquei de emprego duas vezes, me vi sem dinheiro pra pagar uma passagem de trem, meu pai teve câncer, passou alguns meses no hospital, mas após a cirurgia se recuperou muito bem, e rápido, graças a Deus. Perdemos minha avó, de câncer também, foi uma questão de dias após meu pai sair do hospital. Minha outra vó caiu e fraturou algumas vértebras, agora está no hospital, na UTI. Minha sobrinha de apenas 10 meses teve que fazer uma cirurgia no tendão do pescoço, mas no mesmo dia já estava em casa. E terminei meu relacionamento com meu adicto de preferência.
Bom, não posso dizer que foi um ano terrível, porque também aconteceram coisas boas. Muitoo aprendizado e muito crescimento. Conheci pessoas maravilhosas que fizeram e ainda fazem toda diferença na minha vida.
Devo admitir que em meio a todo esse caos, não senti a menor vontade de vir até e ficar choramingando. E diante de toda a frustração e dor do término do meu relacionamento, eu desacreditei de mim mesma e de que recuperação é mesmo possível. Então, o que eu escreveria aqui, já que o título do blog é "Recuperação é Possivel"??
Conversando com um amigo adicto, que hoje está em recuperação, comentei que eu tinha um blog, mas que não escrevia mais. Bom, ele praticamente me xingou. Quer ferramenta melhor para o 12o passo?? Ele me incentivou a continuar escrevendo, e a ser sincera.
Resolvi voltar porque hoje eu acredito sim que Recuperação é Possível. Mas não estou falando da recuperação de um dependente químico. Ela não depende de nós acreditarmos ou não. Porque para alguns funciona, para outros não. Depende daquilo que cada um busca pra si.
Estou falando agora da minha recuperação. Como codependente, é nela que eu acredito, e é ela que eu busco.
Tive que abrir mão de todo aquele amor, de todos aqueles sonhos, de todos aqueles planos. Tive que pensar em mim. Tive que deixar ir.
"Sempre é preciso saber quando acaba uma etapa da vida.
Se você insistir em permanecer nela mais tempo do que necessário,
perderá a alegria e o sentido do resto.
perderá a alegria e o sentido do resto.
Não podemos estar no presente ansiando o passado.
Nem sequer ficar nos perguntando o porquê.
O que aconteceu, aconteceu, e é preciso se desprender.
Não podemos ser eternas crianças, nem adolescentes tardios,
nem empregados de empresas inexistentes,
nem ter vínculos com quem não quer estar vinculado a nós."
nem ter vínculos com quem não quer estar vinculado a nós."
Há momentos em que desejamos ficar, em que daríamos qualquer coisa para ter motivos para fazê-lo. Pensar em chegar a um ponto de "não retorno" nos causa angústia, mas uma hora ficamos fartos dos "até logos", de colocar reticências onde deveria ir um ponto final, e então dizemos "adeus", ainda que nos doa na alma.
O "adeus" é uma palavra madura. Digamos que seja uma questão de saúde emocional. Se queremos que as coisas mudem, devemos permitir que elas mudem. Dizer adeus dói, mas é a única forma de fechar a janela para a dor, a desilusão, e o desencanto.
Quando uma serpente precisa se desprender de sua pele velha, ela escolhe passar por entre duas pedras próximas que a apertem, a rasguem e a ajudem a eliminar sua pele. Esse caminho provoca dor, mas ajuda a se desfazer do velho para dar lugar ao novo.
Sofremos nesse caminho sim, mas se resistirmos a atravessá-lo, a angústia aumentará, porque não soltamos aquilo que não contribui em mais nada.
É normal que resistamos a dar o primeiro passo, mas o que está claro é que quando nos atrevemos a dá-lo, começamos a construir relações saudáveis e positivas, a não sentir esse vazio emocional que nos devora, e a valorizar de verdade as pessoas que merecem estar em nossa vida.
Agora que estou sozinha, tive que focar em mim mesma. E buscando a minha recuperação, me deparei com meus defeitos. Sim, eu também tenho defeitos de caráter.
Enquanto estamos em função dos nossos adictos, mascaramos muitos de nossos defeitos, e isso não é intencional, é sem querer mesmo. É simplesmente porque não conseguimos olhar pra eles. Estamos cegos. Nossos olhares estão voltados unicamente para nosso companheiro, ou filho, ou irmão, ou seja lá qual o grau de proximidade.
Mas e quando eles não são mais um problema? Somos obrigados a olhar pra nós mesmos. É como se tivéssemos um espelho bem na nossa frente, e ele nos mostrasse tudo aquilo que os outros vêem e nós não enxergamos. Somo nós nos olhando de fora pra dentro.
É tão fácil julgar os outros, não é mesmo? Mas e quando temos que fazer isso conosco?
É tão fácil julgar os outros, não é mesmo? Mas e quando temos que fazer isso conosco?
Sempre tive muita dificuldade com o 4o passo.
"Fizemos um minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos".
Ele exige honestidade. Honestidade para examinarmos os nossos comportamentos, sentimentos, pensamentos, não importa quão pouco importantes possam parecer. Nossa honestidade pode conduzir à descoberta de como a nossa doença (codependência) atingiu nossas vidas.
Devemos olhar, não só para aquilo que fizemos, mas também para como nos sentimos. Em situações em que nos sentimos mal, ou em que sentimos que algo estava errado, era certamente porque tínhamos comprometido os nossos valores morais, ou porque não conseguimos respeitá-los.
Quando compreendemos isso, podemos começar a ver a natureza exata das nossas falhas. Não é só ver o erro que cometemos, mas chegar à natureza dela. A natureza dessa falha foi o nosso egocentrismo? Nosso medo? Nossa falta de carinho?
Essa semana mesmo me deparei com um defeito muito grave meu. Erros que cometi antes mesmo de conhecer meu namorado adicto, e agora me vi fazendo tudo de novo. Mas afinal, a causa de todos os meus problemas não era ele? Ou melhor, a doença dele? Será?
O inventário é nosso. Não é local para se registrar as falhas ou os erros dos outros. É um processo de descobrir como nossos defeitos de caráter prejudicam, não só a nós, mas também aos outros, e como nossa vida em recuperação pode nos trazer serenidade, conforto e alegria. Descobrimos aquilo que bloqueia nosso caminho e o que pode funcionar pra nós.
Eu ainda estou procurando meu caminho. Ainda não sei exatamente o que vou fazer da minha vida. Relacionamentos já me trouxeram muita dor de cabeça, então não é uma opção no momento. Preciso descobrir novamente quem sou.
Quero viajar, conhecer lugares, conhecer pessoas, fazer amigos, trabalhar, me formar, adquirir minhas coisas.
E pra seguir, coloco Deus à frente de tudo. Eu sei que sem Deus minha vida não tem sentido. O que farei, pra onde irei se Ele não for comigo? O que passou ficou para trás, não voltará. Mas nas mãos de Deus está o meu amanhã.
Eu entrego tudo a Ele. Ele cuida da minha casa e dos meus, e está no controle. Porque meu coração é enganoso. Por isso meu Pai vai comigo, e cuida de tudo pra mim.
O que desejo pra mim, desejo a vocês também.
Fiquem bem.
Fiquem com Deus.
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