segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Onde está o seu foco?

Olá queridos, como estão?

Eu estou ótima, graças a Deus. Queria aproveitar e desejar um Feliz Natal e um Feliz Ano Novo a todos meus companheiros de recuperação, leitores, seguidores, amigos, enfim... Que 2016 seja um ano cheio de amor, fé, esperança e força.


Então, essa última semana experimentei tantas emoções e sentimentos diferentes. Tantas coisas aconteceram comigo, boas e ruins, e outras com pessoas ao meu redor. Gostaria de compartilhar um pouquinho disso tudo com vocês. 

Você já teve essa sensação de que uma pessoa entrou na sua vida só para roubar sua solidão e lhe oferecer uma falsa companhia? No fim, abrimos a porta do nosso coração para pessoas que só nos iludem, para depois nos darmos conta de que não existe solidão maior do que estar com uma pessoa que não te vê, que não vai saber te fazer feliz. Projetamos em alguém determinadas esperanças e apegos, mas na realidade só encontramos vazios.

Tenho que confessar que tenho um certo problema com rejeição. Acabo fazendo escolhas erradas para manter as pessoas que gosto por perto, mas no final, são apenas aparências. Preciso me lembrar que não é sempre necessário ter alguém do meu lado para ser feliz. 

Às vezes, a própria solidão acaba sendo um espaço íntimo onde podemos encontrar mais equilíbrio. Já passei muito tempo sem ser eu mesma, esperando coisas, ansiando sensações, emoções. Há uma série de necessidades que devo equilibrar. Não gosto mesmo de estar e de me sentir sozinha, mas hoje vejo como algo necessário para meu crescimento pessoal. Só algo que andei pensando.

Agora, quero falar um pouco sobre codependência. 

Sabemos quando amamos alguém. Não vou negar que ainda amo meu ex namorado adicto. Afinal, vivemos tantas coisas juntos, e isso não é um sentimento do qual nos livramos de uma hora pra outra. O sentimento existe. E hoje sei que o que sinto é amor, porque não me vejo mais dependente dele.

Mas como diferenciar amor de codependência? 

A primeira característica é que amor é saudável, é um sentimento bom, enquanto que a codependência dói e machuca. Vamos comparar algumas situações na prática:

Você se dedica ao dependente químico equilibradamente, sem esperar nada em troca? Ou pelo fato de ter recebido pouca atenção e afeto na infância, tenta dar o que não teve, se tornando atenciosa excessivamente, de preferência a alguém que "necessite" de você? Eu me lembro de tantas vezes que falei a ele que nunca daria certo com alguém que não precisasse de mim. Falava e nem percebia a gravidade disso.

Você ama o seu adicto como ele é? Ou pensa que o mudará com a força do seu amor, querendo que ele seja como você deseja, conforme seus padrões?

Você faz somente sua parte para ter um bom relacionamento? Ou tem pânico ao pensar num rompimento, e assume qualquer preço, faz qualquer coisa, passa por cima de tudo, até de si mesma, para ajudar seu companheiro, ainda que ele não queira ou não peça?

O seu amor é consciente e tem limites claros? Ou você deixa estampado que quando ele erra, é você quem está disposta a mudar, sendo mais compreensiva, e tenta ser melhor para agrada-lo mais?

Você permite que ele arque com as consequências dos seus atos insanos? Ou você assume toda a responsabilidade e culpa, paga as contas dele e mente em favor dele?

Você sabe que merece e pode ser feliz? Ou pensa que sua felicidade só será possível se conseguir livrar o seu amado das drogas?

Você consegue realizar suas próprias atividades, pensando em si mesma? Ou sente necessidade desesperada de exercer controle sobre o adicto, dizendo a si mesma que é só para ajudar?

Onde está o seu foco? Na sua vida, ou na vida dele?

Pra mim, o amor é um sentimento que rege nossas vidas e dá sentido a elas. Mas ser dependente de outra pessoa é horrível. Ter compulsão pela vida de outra pessoa nos leva à insanidade. Hoje quando penso nele, são pensamentos de carinho e saudade, não tenho mais necessidade de controlar seus atos, até porque nunca pude. Ele sempre foi o único responsável por suas escolhas.

Esta semana ouvi tantas histórias. Muitas pessoas ainda tem aquele pensamento de que dependentes químicos são feios, sujos e pobres, mas a adicção não escolhe raça, cor, religião ou classe social. Qualquer família está sujeita a este mal. Você começa a perceber atitudes estranhas como sumiços, não atender ou desligar o telefone, demoras ao sair, pequenas mentiras. Até que começa aquele ciclo que todos conhecemos: promessas, recaída, arrependimento, promessas, recaída, arrependimento...

Quando ouço algumas histórias de outras meninas, me dá vontade de dar uma chacoalhada, pra ver se acordam, e não permitir que elas vivam tudo que eu já vivi. Mas não posso fazer isso. Só o que posso fazer é compartilhar a minha experiência.

Não posso dizer a ninguém para deixar seu companheiro, e nem pra continuar com ele, mas seja qual for a escolha, será dolorosa, e vai exigir força e coragem. A adicção é uma doença incurável. Eles terão que lutar contra ela todos os dias de sua vida, até o final. Até o último dia, existe o risco de uma recaída. E pra que um adicto se mantenha em recuperação, é preciso muita, muita vontade.

Por mais que a gente ame, não podemos fazer nada. Somos impotentes. Se eles realmente quiserem, encontrarão o caminho da recuperação, mas com os próprios pés. Mas se não quiserem, nada, absolutamente nada, vai mudar seu caminho. A única coisa que é necessária pra um adicto se recuperar é querer. Mas um querer sincero. Um querer acima de qualquer outro querer.

Eu sabia que o meu ex tinha vontade de se recuperar, nunca duvidei disso. Mas a vontade de usar droga sempre acabava sendo maior do que a vontade de se manter limpo. Eu gostaria de ter conhecido tudo isso antes, ao menos pra ter tido a chance de escolher. Entrei nesse relacionamento sem ter a menor noção do que se passava com ele. Ainda tenho esperanças que um dia ele fique bem. Mas não tenho mais expectativas, porque estas geram frustrações.

Eu sempre achei que fosse forte por continuar ao lado dele. Sempre que eu via um sinalzinho de vontade de se recuperar, minhas forças inexplicavelmente se renovavam. Eu pensava: "Tenha força e se mantenha com ele, que vocês vencerão juntos". Mas tudo tem um limite. Custei muito a chegar no meu por medo. Medo de que ele, sozinho, sem a família, se perdesse de vez. Ele só tinha a mim. Tinha medo de uma overdose, de uma prisão, de um assassinato, mesmo sabendo que a culpa não seria minha. E aí eu percebi que abrir mão desse medo é que exigiria força de verdade. Deixá-lo, pra que ele chegasse ao fundo do poço e iniciasse de fato sua recuperação. Porque uma coisa é certa, um dependente químico só vai querer buscar uma mudança radical de vida quando se ver sem saída.

"O que nem as circunstâncias mais terríveis da vida podem nos tirar é a escolha que se faz sobre a forma de viver e lidar com o que nos passa."
Victor Frankl

Isto significa que temos a liberdade de escolher o que vamos fazer com o que a vida nos apresenta. Num primeiro momento existe a dor, a confusão, o choque, e isso é lógico, porque temos que aprender a lidar com uma nova rotina, limitações, e todo o tumulto emocional. Mas uma vez superada, chega o momento de definir nossas atitudes. Aceitar a situação como uma oportunidade pra crescer e sair fortalecido é a atitude mais sábia. É importante lembrar o seguinte: ainda que, por vezes, seja difícil ver isso com clareza, estar bem e ser feliz são decisões que são tomadas.

Procurar apoio psicológico é uma boa opção, eles nos dão um retorno mais objetivo. Eu busquei minhas forças nas salas de reuniões, com pessoas que passavam o mesmo que eu, e entendiam todo meu sofrimento.

Mas no final, a maior fonte de inspiração e força que vai nos ajudar a superar os momentos difíceis é a espiritualidade, qualquer que seja sua crença. Ela pode dar um sentido à situação e te renovar constantemente. Tenho buscado em Deus a força pra me manter de pé e melhorar a cada dia. Tenho muitos defeitos que busco melhorar, pra fazer a Sua Vontade. Afinal, Jesus já deu a vida dele por mim. Fazer a vontade dele é o mínimo que posso pensar em fazer em agradecimento.

Desculpem se me estendi demais ou se fui sincera demais. Não posso ser irresponsável em minhas palavras.

Mas cuidem-se em primeiro lugar. O que eu desejo pra mim, desejo em dobro pra vocês.

Um grande abraço.

Fiquem bem.
Fiquem com Deus.

(Alguns trechos deste texto foram baseados no Livro Amando um Dependente Quimico, Pollyana P.)

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