segunda-feira, 28 de julho de 2014

3ª visita

Nooossaaa... quanto tempo eu não passava por aqui.

Tenho andado bastante ocupada, graças a Deus. Fazendo boas vendas, visitando amigos, arrumando a casa, indo às reuniões do grupo de ajuda, e visitando o amor. 

É, este último sábado foi a 3º visita. Nossa, que dia maravilhoso. Nas duas últimas estava frio e chuvendo, e desta vez estava um dia gostoso, daqueles de ficar lagarteando no sol comendo bergamota. Pudemos passear por todo o lado, e conversar bastante. E o melhor foi a minha sogrinha ter nos dado 2 horinhas sozinhos. Ela teve que ir embora mais cedo. hehe

Bom, ele está indo bem. Ele recebeu um castigo por ter usado o telefone, quando não pudia. Para quem não se lembra, entrou um residente novo lá e levou um celular escondido no calçado. Estavam os dois na estufa, que fica bem distante e este senhor mostrou o celular que carregava, e meu namorado, que já está lá há quase 3 meses, ao invés de informar ao superior, não se segurou e usou o celular. Mesmo eu xingando para ele não fazer isso, ele me ligou 2 vezes. Mas como era a cobrar, logo meus créditos acabaram e eu não coloquei mais, justamente para ele não poder ligar mais. Mas ele tentou, mais umas 10 vezes. 

Resultado: Mandaram ele abrir uma vala pra cada ligação que fez. E ainda tem que aguentar as piadinhas dos outros. Mas pelo menos admitiu que fez. Só isso já é uma grande mudança. Ele nunca assumia a culpa de nada.

Uma hora, na visita, o supervisor e o psicólogo nos chamaram para conversar. Eles perguntaram pra ele, o que o levou a pegar o celular e me ligar, afinal, ele sabe que o contato é apenas por carta e que eu estou ali, apoiando ele sempre. Ele respondeu que não resistiu ao impulso de falar comigo. 

Eles, então, fizeram a analogia com a droga. O que ele faria se fosse a droga e não o celular? Claro que ele pensou que um celular não causaria tanto dano, mas prova que ele ainda não consegue resistir aos impulsos. Hoje foi o celular, mas aqui fora, pode ser a droga. 

Nos disseram que ele ainda está demorando um pouco para aterrissar no tratamento. É compreensível porque ele sofre de depressão, há muitos anos, e ainda está se adaptando à medicação. Mês passado aumentaram a dose, este mês já diminuíram de novo. E ele ainda se vê muito fechado, às vezes quer ficar isolado, não compartilha os sentimentos. Mas apesar disso, ele já se encontra muito menos ansioso e nervoso, e consegue se concentrar melhor nas tarefas propostas.

Ele falou pra mim que a pior parte da droga, é quando tu para de usar. Porque enquanto tu está usando, tu não tá nem aí. Tu não te importa com o que os outros pensam, não se importa com o que os outros sofrem, tu só tem uma pequena noção do mal que ta fazendo pra si mesmo e tudo que está perdendo, tu vira uma pessoa quase sem sentimentos. Quando o cara pára, aí é que são elas.

Aí que começa a perceber tudo que fez pra si mesmo e para os outros. E aí vem a culpa, depressão, sentimentos negativos. E aprender a lidar com esses sentimentos não é fácil.

Mas fico muito feliz que ele esteja lá. Ele tem muita vontade de vir embora, é claro, mas ele sabe que tem que ficar. Ele sabe que precisa, e vai ficando. Ele está lá há 82 dias. Dia 07 de agosto ele completa 3 meses de internação.

Nas reuniões, a gente tem aprendido que na vida de um adicto ou dos familiares de adictos, e também dos codependentes, não existe a palavra "NUNCA". Existe, sim, a palavra "AINDA". 

Conheci dependentes químicos em recuperação que vem se mantendo limpos há 16 anos. Mas outros que recaíram depois de 10 anos. Isso só prova como essa doença jamais pode ser menosprezada.

A recuperação dos dependentes e dos codependentes deve ser vivida todos os dias. Só por hoje, vou me manter limpo. Só por hoje, vou viver minha vida e deixar que ele viva a dele.

Nós, familiares, não podemos esperar que a Comunidade Terapêutica nos entregue um anjinho de volta. É uma doença que não tem cura. Nós não podemos criar a esperança de que ele jamais vai voltar a usar a droga. Tudo que podemos fazer é orar por eles, e viver a nossa própria vida de maneira em que, se ele cair, a gente não caia junto. 

O próximo mês terá 5 semanas. A próxima visita demorará um pouquinho mais a chegar. Mas estou me mantendo bem aqui, de verdade. Estou indo às reuniões toda semana. Hoje mesmo recomeçam minhas aulas, e espero que volte a trabalhar em breve.

Ele mesmo está estranhando minha mudança, que eu mesma não tinha percebido. Ele disse que parece que eu to indo muito bem sozinha aqui, e senti o ciúme na voz dele. É bom, de certo modo. Ele está bem ciente dos limites que defini pra nós dois. Ele sabe que se desistir do tratamento, nenhum dos nossos objetivos serão alcançados. 

Não tenho certeza se ele leva muito a sério a minha palavra, afinal, tantas vezes que eu disse uma coisa e acabei cedendo. Mas suspeito que ele não vai querer pagar pra ver.

Ainda tenho minhas recaídas. Ás vezes as lembranças ruins insistem em aflorar, mas tento controlar esses pensamento ruins que só me deixam pra baixo e deprimida. É, não é fácil. Mas aos pouquinhos vamos indo. Um dia de cada vez.

Fiquem bem.
Fiquem com Deus.

sábado, 19 de julho de 2014

Você só tem uma vida!!

Olá queridos.

Estive pensando sobre essa doença: Codependência.

Será que ela existe apenas em familiares de dependentes químicos??

Será que pessoas que se dizem "comuns", não viveram, em algum momento de suas vidas, uma relação afetiva codependente??

Não sou muito de novela. Sinceramente não acompanhei a novela global Em Família. Mas de vez em quando dava uma olhada em tabloides e comentários a respeito. Como hoje era o último capítulo, me dignei a ver. 

Em relação aos personagens: Como classificar a relação do Laerte com as suas mulheres? Principalmente em relação à Helena e a Luiza? E de algumas delas em relação a ele? Como a Shirley e a Livia, que acabou atirando nele?

O que são essas relações, senão uma dependência de um em relação ao outro? E existia a droga ali? Não.

Até que ponto uma relação de entrega total passa do amor à doença?

Eu já me apaixonei muitas vezes na minha vida. Eu sempre vivi de amor. E adoecia por ele. E quando eu me apaixonava, era aquele romance, aquele sonho, aquela entrega. Eu vivia a pessoa, eu respirava a pessoa, eu só queria agradar, às vezes fingia ser quem não era, só porque sabia que era aquilo que a pessoa gostava. E aí chega a hora que, depois de tanto dar, a gente começa a querer receber de volta. Então vem as decepções.

Hoje me pergunto: Porque eu fazia isso? Porque eu permiti que o outro viesse sempre antes de mim?

Detalhe: estou falando de todas as minhas relações. Não só a minha atual.

É claro que quando temos um dependente químico dentro de casa, toda a família adoece. O que nos leva a fazer isso, é óbvio. Queremos fazer com que o nosso familiar largue as drogas. 

E o que leva uma pessoa a querer tirar a própria vida porque o amado não a quer?

Indo mais adiante nesse pensamento: O que leva uma pessoa a começar a fumar?

O que leva uma pessoa a começar a beber?

O que leva uma pessoa a comer descontroladamente? Ou não comer?

O que leva uma pessoa a passar o dia inteiro na internet, nas redes sociais?

O que leva uma pessoa a acumular objetos e mais objetos, sem ter dinheiro pra comprar ou lugar pra guardar?

O que leva uma pessoa a tirar as tais selfies, principalmente as meninas, com roupa curta e apertada, mostrando os peitos e o que mais quiser?

Uma palavra responde a todas essas perguntas: O vazio.

O vazio da criança que cresceu sem o amor dos pais. O vazio do adolescente que sofreu bullying. O vazio da esposa que perdeu o marido. O vazio das relações por aparência. O vazio daquele que quer ser aceito. O vazio que nos faz buscar incansavelmente algo que o preencha. 

Alguns o preenchem com as drogas, outros com outra pessoa, outros com um celular, outros com objetos, outros perdem o respeito por si mesmas e se expõe porque o corpo bonito é a única coisa que tem a oferecer.

Eu não posso julgar, porque eu mesma estou doente. E também, eu não vivi a vida do outro. Eu não pago as contas do outro. Eu não sei dos problemas do outro. Que direito eu tenho de julgar?

Mas mesmo assim, tantas pessoas ainda julgam nossa situação. Essa semana mesmo estava comentando com minha irmã a respeito de um amigo, com quem tive uma breve relação, há muito tempo atrás, mas que também se envolveu com drogas, bem depois, e que agora voltei a manter contato, muito por acaso. E a primeira coisa que ela me perguntou: Outro drogado??

Não. Não é outro drogado. É uma pessoa. Que teve uma história. Que sofreu. Que cometeu erros. Que fez más escolhas. Mas que hoje está bem. Trabalhando e levando sua vida. E é um ser humano. Isso me deixa indignada.

O que quero dizer, com essa reflexão, é que para ser dependente ou codependente, não precisa ter, necessariamente, relação com as drogas. Ao meu ver, isso vem de dentro, de cada um de nós.

E o tratamento é o mesmo. Temos que deixar de depositar nossas esperanças e sonhos, e expectativas, e principalmente, a nossa felicidade em outra pessoa, ou em qualquer outra coisa. Depositar essa responsabilidade no outro, não é justo, para nenhum lado.

Ninguém mais, além de nós mesmos, é responsável por fazer nossa vida valer a pena. Tem aquela frase: Não procure alguém que te complete. Complete a você mesmo, e procure alguém que te transborde. 

Você, que está passando por qualquer uma dessas situações, dê uma chance a si mesmo. Se valorize. Diga o que você quer dizer. Não diga sim, querendo dizer não. Se respeite. Respeite seus limites. Não fique com ninguém por pena.

Saiba que se você não cuida de si, não pode esperar que o outro cuide. Se você não se ama, não pode esperar que o outro ame. Se você não vai em busca de sua própria felicidade, não pode esperar que o outro a traga pra você.

Essa semana tive a oportunidade de me manter firme. Entrou um guri novo na Comunidade Terapêutica, e ele conseguiu levar um celular lá pra dentro. Estava ele e meu namorado na estufa, que fica bem isolada, e ele mostrou o celular. Meu namorado não se aguentou e me ligou. Quando meu celular tocou, eu não reconheci o número, mas eu senti que era ele. Era a cobrar, e eu retornei, o que normalmente não faço. Quando ouvi a voz dele, meu coração gelou. Quando me lembrei como se respira, eu consegui dizer alô. Só depois que compreendi que ele ainda estava lá, é que consegui conversar por alguns instantes.

Eu disse: Tu é louco? Vão te ver com esse celular e vão te dar um castigo.
E ele: Não me importa. Eu corro qualquer risco pra falar contigo.
E eu disse: Ah, agora você corre?
Meu crédito estava no fim, então eu avisei ele que a qualquer momento a ligação poderia cair. 
E aí ele me disse: Então tu vai lá agora e coloca mais crédito.
E eu disse: Não. Porque você não pode ficar me ligando. Tá errado.
E ele ficou brabo e disse: Vai lá e coloca que eu vou te ligar de novo depois.

E eu não coloquei. E na carta dele essa semana ele falou que encontraram o celular e descobriram que ele tinha me ligado. Não me disse o que aconteceu, só me garantiu que já estava tudo bem.

Esse pequeno passo me deixou orgulhosa de mim. Entendem? Eu queria dizer não, e eu disse não. Eu não fui cúmplice daquele pequeno erro. Não é porque ninguém iria ver, que pode. Não pode. E ele tem que aprender isso, e que se ele quiser errar, vai fazer isso sozinho, e vai sofrer as consequencias por isso.

E fora isso, estou conseguindo tomar minhas decisões, por mim, e estou tranquila em relação a elas. Tranquila em relação às minhas atitudes que, aos poucos, estou conseguindo modificar. 

Sei que ele está bem lá. Ele continua internado, há 73 dias, e só por hoje, pretende continuar assim.

Não se esqueça, meu amigo e minha amiga, você só tem uma vida. O que você vai fazer com ela?

Para refletir.

Desejo a vocês muita serenidade, para aceitar aquilo que não pode ser modificado. Coragem para modificar aquilo que pode. E muita sabedoria para distingui-las. Também muita paz de espírito, e tranquilidade. Que vocês encontrem seu caminho, que é só seu. Outro podem acompanhar, mas a jornada é sua.

Fiquem bem.
Fiquem com Deus.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Haja paciência!

Olá meus amigos.

Demorei uns dias para postar novamente, mas é que sofri um pequeno acidente caseiro. Estava lavando a louça e não vi que um copo tinha trincado. Quando fui passar a esponja um pedaço da borda caiu, deixando um pedaço muito bem afiado, que entrou com tudo no meu dedo.

Resultado, alguns dias sem conseguir digitar direto. Mas por outro lado, devorei 2 livros. Foi um tempo bem aproveitado. 

Fora isso, sem grandes acontecimentos.

Na última quarta feira fui na reunião do grupo de apoio. Como sempre, muito boa e necessária. 

Fizemos uma reflexão sobre paciência e tolerância. No sentido de dar espaço e escutar o que o outro tem a dizer. Nem sempre as coisas tem que ser do nosso jeito. Pode ser bom ouvir o outro lado, ouvir outra opinião. 

Fiquei pensando como eu não tinha paciência nenhuma com o meu namorado. Tá certo, eles nos enlouquecem. Mas mesmo quando ele estava numa boa, e me pedia para eu ajudar ele com alguma coisa no computador, por exemplo. Eu trabalho a vida toda com computador, mas ele nunca teve muito contato, e digita muitoooo devagar. Eu nunca tinha paciência para ensinar e acabava fazendo por ele. Mas não só isso. Tanta coisa que eu dizia: ai tu não consegue fazer, vai ser muito difícil pra ti, deixa que eu faço.

E depois quero reclamar que ele não tem responsabilidade e se pendura nas minhas costas. 

Sem falar de que tudo que ele falava, eu achava que ele estava mentindo. Tudo que ele sugeria, era errado. Só o meu ponto de vista era o certo. Ele tinha que fazer do jeito que eu dizia que era pra fazer. 

Nossa, isso é cansativo. 

Poxa, nem sempre eu vou estar certa. Nem sempre a minha sugestão é a melhor.

Quando ele sair de lá, ele vai passar por um processo difícil de readaptação. Eu preciso dar espaço a ele. Espaço para ele acertar, espaço para ele errar, espaço para ele aprender, espaço para ele andar com as próprias pernas.

Eu sempre fui muito mãezona. Eu prefiro fazer, eu mesma, do meu jeito, do que deixar o outro fazer mal feito. Mas a que isso me levou até agora? Não deixo ele crescer e me sinto usada.

Ó vida, quantas lições ainda tenho que aprender. Eu tenho que cuidar da minha vida, e deixar que ele cuide da dele, só pra variar. Eu tenho que fazer as minhas escolhas, e deixar que ele faça as dele. Afinal, somos nós que vamos ter que arcar com as consequências dessas escolhas.

Mas fora isso, há coisas boas também. Estou quase conseguindo um emprego. Mandei meu currículo para o RH da faculdade. Espero que eles estejam me chamando em breve. Assim garanto, também, um bom desconto na mensalidade. 

Vai ser bom pra mim. Não aguento mais ficar em casa sem ter muito o que fazer. Preciso ser útil. 

E também sou tão impaciente. Fico angustiada com a ligação do serviço que não acontece, com esse corte na mão que não sara, com o tempo que não passa tão rápido como deveria. Mas preciso passar essa paciência, que não tenho, pra ele. Pra ele não desistir desse tratamento tão longo.

Bom, a respeito do amore, ele continua internado e focado no tratamento, há 65 dias. Na verdade, ele andou fraquejando esses dias, me mandou uma carta semana passada, dizendo que estava com muita vontade de sair e trabalhar, e com muita saudade de mim e da filha. Mandei uma carta de volta bem enérgica dizendo que não queria ele aqui agora.

Afinal, ele passou por tantas coisas para conseguir entra lá, e já que está lá, então fique e se trate. Só isso que eu espero dele agora. Tudo tem seu tempo certo. Ele vai ter bastante tempo para trabalhar, pra reconquistar a filha dele, ela só tem 4 anos, e pra gente começar a viver nossa vida juntos. Mas isso não vai acontecer se ele estiver doente, e nós estivermos também. Foi isso, basicamente, que escrevi pra ele.

Essa semana recebi dele de volta uma carta um pouco mais confiante. Ele continua lá, isso é ótimo. Daqui a 15 dias nos veremos novamente. 

A saudade dói no peito, sinto muita falta dele aqui. Tantas coisas que preciso resolver sozinha, outros momentos bons e até os ruins que não tenho com quem dividir, aquela cumplicidade que sempre existiu entre nós, quando a droga não estava lá.

Estamos reconstruindo tudo isso, aos poucos. É tudo tão recente. Muita coisa precisa ser resolvida no nosso próprio interior, precisa ser superada. É difícil. Mas chegamos lá. 

Porque eu sei que ele é muito mais do que um dependente químico em recuperação. Ele é muito mais do que essa doença. Eu sou muito mais do que uma codependente. Nós somos duas pessoas imperfeitas que se recusam a desistir um do outro. E se for preciso todos esses meses separados para ficarmos juntos, sem a droga, que estraga tudo, que seja. Nossa hora vai chegar.

Eu acredito muito em Deus. E sei que Ele tem o melhor pra nós. 

Fiquem bem meus queridos. Fiquem com Deus.

Desejo muita serenidade, e coragem, e sabedoria, só por hoje! Força!

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Eu não sou perigosa...

Olá meus amigos.

Tive um encontro do grupo de ajuda tão bom ontem, tão rico e tão necessário. A gente aprende tanto. Ouve o que precisa ouvir e sai com bastante coisa para refletir.

Muito do que escrevi no meu último post foi o que compartilhei com eles, entre outras coisas.

Eu fui criada numa família cristã, fui criada dentro da igreja, desde que me conheço por gente, principalmente porque meu pai é pastor. Isso se torna muito complicado a partir do momento em que nós temos que demonstrar coisas que, na realidade, não estamos sentindo. 

Porque a família do pastor não pode brigar, não pode xingar, a família não tem problemas, se ama muito em todos os momentos, é sempre unida, é a família perfeita, é o modelo. Só que não é bem assim. 

A gente briga, a gente xinga, a gente se desentende, e a gente tem muitos problemas. 

Só que os irmãos não precisam saber disso. Porque não importa que o mundo esteja desabando dentro de casa, a gente vai engolir tudo o que estiver sentindo, e vamos sorrir e ser simpáticos.


Esse tipo de atitude e pensamento também é o que dificulta muito a minha família entender a doença do meu namorado. Afinal, quem quer um dependente químico na família perfeita? O que os outros vão pensar?

Ta, não vou ser injusta. Não posso generalizar. Nem todos eles pensam assim, mas.... dificulta bastante.





Mas eu cresci agindo assim, e por isso me tornei uma pessoa que agrada, que serve, que sorri com vontade de chorar, que diz sim querendo dizer não, que aceita pra não desagradar.

Na reunião, me fizeram entender que foi bom que ele tenha me dito aquilo. "Que o meu jeito de ser é perigoso para um adicto". Ele estava muito certo no que disse. Isso indica que ele está muito racional e consciente. Quer dizer que ele sabe do que ele precisa e que, apesar de toda a doença dele, ele me vê melhor do que eu mesma me vejo.

Quer dizer também que eu tenho muito o que mudar. Preciso rever todo o meu jeito de ser, o meu jeito de agir, o meu jeito de pensar, não só com ele, mas com todo mundo. 

Mas começando pela minha relação com ele:
Eu preciso agir do modo que eu sei que é o certo, e não do jeito que ele quer que eu faça.
Eu preciso impor limites pra mim e pra ele, e respeitá-los, mesmo que ele não goste e reclame.
Eu preciso aprender a dizer não, ao invés de dizer sim a tudo que ele me pede.
Eu preciso aprender a deixá-lo ter seu espaço. Ele vai ter que fazer as coisas sozinho, e vai acertar, e vai errar e vai ter que arcar com as consequências dos seus erros.

Nossa, isso é difícil. Abrir mão de tudo que aprendi e do que venho fazendo há 25 anos. Mas, tem que ser feito. Então vamos fazer.

E pensando bem, não é uma mudança só por ele. Até quando eu continuaria assim?? Ser boazinha para agradar aos outros, me sentir mal pelo que os outros fazem pra mim, dizer o que os outros querem ouvir... Me perco nessa confusão.

E quanto ao que eu quero? E o que eu sinto? E o que eu gosto? É nisso que devo trabalhar agora.

Soa meio egoísta, mas não é. É sobrevivência.

Mas é isso. Meu namorado continua internado, e está limpo e em tratamento, só por hoje, há 58 dias.

O que eu desejo pra mim, desejo a vocês também. Múltiplas 24h de muita serenidade, coragem e sabedoria.

Fique bem.
Fiquem com Deus.