Nooossaaa... quanto tempo eu não passava por aqui.
Tenho andado bastante ocupada, graças a Deus. Fazendo boas vendas, visitando amigos, arrumando a casa, indo às reuniões do grupo de ajuda, e visitando o amor.
É, este último sábado foi a 3º visita. Nossa, que dia maravilhoso. Nas duas últimas estava frio e chuvendo, e desta vez estava um dia gostoso, daqueles de ficar lagarteando no sol comendo bergamota. Pudemos passear por todo o lado, e conversar bastante. E o melhor foi a minha sogrinha ter nos dado 2 horinhas sozinhos. Ela teve que ir embora mais cedo. hehe
Bom, ele está indo bem. Ele recebeu um castigo por ter usado o telefone, quando não pudia. Para quem não se lembra, entrou um residente novo lá e levou um celular escondido no calçado. Estavam os dois na estufa, que fica bem distante e este senhor mostrou o celular que carregava, e meu namorado, que já está lá há quase 3 meses, ao invés de informar ao superior, não se segurou e usou o celular. Mesmo eu xingando para ele não fazer isso, ele me ligou 2 vezes. Mas como era a cobrar, logo meus créditos acabaram e eu não coloquei mais, justamente para ele não poder ligar mais. Mas ele tentou, mais umas 10 vezes.
Resultado: Mandaram ele abrir uma vala pra cada ligação que fez. E ainda tem que aguentar as piadinhas dos outros. Mas pelo menos admitiu que fez. Só isso já é uma grande mudança. Ele nunca assumia a culpa de nada.
Uma hora, na visita, o supervisor e o psicólogo nos chamaram para conversar. Eles perguntaram pra ele, o que o levou a pegar o celular e me ligar, afinal, ele sabe que o contato é apenas por carta e que eu estou ali, apoiando ele sempre. Ele respondeu que não resistiu ao impulso de falar comigo.
Eles, então, fizeram a analogia com a droga. O que ele faria se fosse a droga e não o celular? Claro que ele pensou que um celular não causaria tanto dano, mas prova que ele ainda não consegue resistir aos impulsos. Hoje foi o celular, mas aqui fora, pode ser a droga.
Nos disseram que ele ainda está demorando um pouco para aterrissar no tratamento. É compreensível porque ele sofre de depressão, há muitos anos, e ainda está se adaptando à medicação. Mês passado aumentaram a dose, este mês já diminuíram de novo. E ele ainda se vê muito fechado, às vezes quer ficar isolado, não compartilha os sentimentos. Mas apesar disso, ele já se encontra muito menos ansioso e nervoso, e consegue se concentrar melhor nas tarefas propostas.
Ele falou pra mim que a pior parte da droga, é quando tu para de usar. Porque enquanto tu está usando, tu não tá nem aí. Tu não te importa com o que os outros pensam, não se importa com o que os outros sofrem, tu só tem uma pequena noção do mal que ta fazendo pra si mesmo e tudo que está perdendo, tu vira uma pessoa quase sem sentimentos. Quando o cara pára, aí é que são elas.
Aí que começa a perceber tudo que fez pra si mesmo e para os outros. E aí vem a culpa, depressão, sentimentos negativos. E aprender a lidar com esses sentimentos não é fácil.
Mas fico muito feliz que ele esteja lá. Ele tem muita vontade de vir embora, é claro, mas ele sabe que tem que ficar. Ele sabe que precisa, e vai ficando. Ele está lá há 82 dias. Dia 07 de agosto ele completa 3 meses de internação.
Nas reuniões, a gente tem aprendido que na vida de um adicto ou dos familiares de adictos, e também dos codependentes, não existe a palavra "NUNCA". Existe, sim, a palavra "AINDA".
Conheci dependentes químicos em recuperação que vem se mantendo limpos há 16 anos. Mas outros que recaíram depois de 10 anos. Isso só prova como essa doença jamais pode ser menosprezada.
A recuperação dos dependentes e dos codependentes deve ser vivida todos os dias. Só por hoje, vou me manter limpo. Só por hoje, vou viver minha vida e deixar que ele viva a dele.
Nós, familiares, não podemos esperar que a Comunidade Terapêutica nos entregue um anjinho de volta. É uma doença que não tem cura. Nós não podemos criar a esperança de que ele jamais vai voltar a usar a droga. Tudo que podemos fazer é orar por eles, e viver a nossa própria vida de maneira em que, se ele cair, a gente não caia junto.
O próximo mês terá 5 semanas. A próxima visita demorará um pouquinho mais a chegar. Mas estou me mantendo bem aqui, de verdade. Estou indo às reuniões toda semana. Hoje mesmo recomeçam minhas aulas, e espero que volte a trabalhar em breve.
Ele mesmo está estranhando minha mudança, que eu mesma não tinha percebido. Ele disse que parece que eu to indo muito bem sozinha aqui, e senti o ciúme na voz dele. É bom, de certo modo. Ele está bem ciente dos limites que defini pra nós dois. Ele sabe que se desistir do tratamento, nenhum dos nossos objetivos serão alcançados.
Não tenho certeza se ele leva muito a sério a minha palavra, afinal, tantas vezes que eu disse uma coisa e acabei cedendo. Mas suspeito que ele não vai querer pagar pra ver.
Ainda tenho minhas recaídas. Ás vezes as lembranças ruins insistem em aflorar, mas tento controlar esses pensamento ruins que só me deixam pra baixo e deprimida. É, não é fácil. Mas aos pouquinhos vamos indo. Um dia de cada vez.
Fiquem bem.
Fiquem com Deus.