Hoje acordei tão animada.
Ontem fui à casa dele, passamos no mercado, fizemos um sanduichão, comemos juntos, vimos a novela, conversamos. Lemos juntos a mensagem do dia, do livro de reflexões diárias, "5 minutos com Jesus". Falamos sobre a necessidade das reuniões, e da necessidade da igreja. Não adianta ter só um dos dois. O ideal é ter os dois.
Falamos sobre seus sentimentos. Ele não consegue explicar porque vai atrás da droga. Quando ele sente vontade dela, já não se importa com mais nada. Não se importa comigo, não se importa com sua filha, não se importa com tudo o que ela já o fez perder. Não se importa com seu futuro nem com nossos planos. Sei que minhas atitudes codependentes muitas vezes facilitaram seu uso. Tenho muito medo de vê-lo sem ter onde morar, por isso muitas vezes cobri seus gastos, cobri suas dívidas, cobri suas perdas.
Ontem também falei sobre o medo que sempre vou ter de suas recaídas. Como ele não está vivendo a recuperação, não está se tratando, nem buscando ajuda ou força, nem psicologica, nem espiritual, uma recaída é fatídica. Ele me disse que eu não precisava ter medo, porque ele está disposto a mudar de vida, mesmo estando limpo há apenas 15 dias. Ontem eu acreditei que tudo estava entrando nos eixos de novo.
Hoje é seu dia de pagamento. Ele me pediu que ficasse com o cartão do banco dele, para ele não cair na tentação de usar todo seu dinheiro novamente, como fez a 15 dias atrás.
Hoje no meu intervalo fui até o banco para verificar o dinheiro na conta, mas o cartão dele não estava na minha carteira.
Hoje descobri que num descuido meu, ele pegou seu cartão escondido, sabendo que no outro dia teria dinheiro lá.
Hoje descobri que ele mentiu pra mim de novo.
Hoje descobri que quando ele se despediu de mim ontem, ele já sabia o que ia fazer, e mesmo assim falava de recuperação e de amor.
Hoje não reconheço o cara por quem me apaixonei.
Dor. Angústia. Decepção. Perda.
Perdas e mais perdas. O que mais ele vai ter que perder pra deixar de ir atrás dessa maldita droga?
Ainda tentei dar mais um voto de confiança, porque muitas vezes achei que ele tinha usado e acabei sendo injusta. Pode ser que de repente eu tenha guardado seu cartão em outro lugar e não me lembrava. Não quis acreditar que ele tinha ido atrás dela, depois de tudo que conversamos ontem. Consegui trabalhar normalmente, mas ficava buscando alternativas do que ele estaria fazendo.
Combinamos que ele viria aqui pra minha casa hoje. Normalmente eu fico no serviço até mais tarde. Hoje sai as 18h e ao invés de vir direto pra casa, passei na casa dele. Ele não estava, é claro. Estava tudo do mesmo jeito de quando sai ontem a noite. Nem sei se foi trabalhar de novo. Sua mochila estava lá. Voltei pra casa, ele também não veio pra cá. Não há duvidas. Ele foi atrás dela de novo.
E agora? O que eu posso fazer? Nada. Sei que não posso fazer nada para impedir que ele se destrua, e se ele recaiu não foi por culpa de alguma coisa que fiz. Só peço a Deus que o livre de todo o mal, e que ele volte pra casa. Estou muito magoada e totalmente desacreditada desse amor que ele me jurou ontem.
Entrego nas mãos de Deus e peço direção nesse momento. Mas não quero tomar decisões agora.
Hoje vou ficar em casa, ver meus filmes que gosto, ouvir minhas músicas, cuidar de mim. Hoje não vou permitir que a tristeza me domine e o medo me influencie. Hoje vou entregar nas mãos Daquele que sabe o que é melhor pra nós.