sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Hoje

Hoje acordei tão animada. 

Ontem fui à casa dele, passamos no mercado, fizemos um sanduichão, comemos juntos, vimos a novela, conversamos. Lemos juntos a mensagem do dia, do livro de reflexões diárias, "5 minutos com Jesus". Falamos sobre a necessidade das reuniões, e da necessidade da igreja. Não adianta ter só um dos dois. O ideal é ter os dois.

Falamos sobre seus sentimentos. Ele não consegue explicar porque vai atrás da droga. Quando ele sente vontade dela, já não se importa com mais nada. Não se importa comigo, não se importa com sua filha, não se importa com tudo o que ela já o fez perder. Não se importa com seu futuro nem com nossos planos. Sei que minhas atitudes codependentes muitas vezes facilitaram seu uso. Tenho muito medo de vê-lo sem ter onde morar, por isso muitas vezes cobri seus gastos, cobri suas dívidas, cobri suas perdas.

Ontem também falei sobre o medo que sempre vou ter de suas recaídas. Como ele não está vivendo a recuperação, não está se tratando, nem buscando ajuda ou força, nem psicologica, nem espiritual, uma recaída é fatídica. Ele me disse que eu não precisava ter medo, porque ele está disposto a mudar de vida, mesmo estando limpo há apenas 15 dias. Ontem eu acreditei que tudo estava entrando nos eixos de novo.

Hoje é seu dia de pagamento. Ele me pediu que ficasse com o cartão do banco dele, para ele não cair na tentação de usar todo seu dinheiro novamente, como fez a 15 dias atrás.
Hoje no meu intervalo fui até o banco para verificar o dinheiro na conta, mas o cartão dele não estava na minha carteira.
Hoje descobri que num descuido meu, ele pegou seu cartão escondido, sabendo que no outro dia teria dinheiro lá.
Hoje descobri que ele mentiu pra mim de novo.
Hoje descobri que quando ele se despediu de mim ontem, ele já sabia o que ia fazer, e mesmo assim falava de recuperação e de amor.

Hoje não reconheço o cara por quem me apaixonei. 
Dor. Angústia. Decepção. Perda.

Perdas e mais perdas. O que mais ele vai ter que perder pra deixar de ir atrás dessa maldita droga?

Ainda tentei dar mais um voto de confiança, porque muitas vezes achei que ele tinha usado e acabei sendo injusta. Pode ser que de repente eu tenha guardado seu cartão em outro lugar e não me lembrava. Não quis acreditar que ele tinha ido atrás dela, depois de tudo que conversamos ontem. Consegui trabalhar normalmente, mas ficava buscando alternativas do que ele estaria fazendo. 

Combinamos que ele viria aqui pra minha casa hoje. Normalmente eu fico no serviço até mais tarde. Hoje sai as 18h e ao invés de vir direto pra casa, passei na casa dele. Ele não estava, é claro. Estava tudo do mesmo jeito de quando sai ontem a noite. Nem sei se foi trabalhar de novo. Sua mochila estava lá. Voltei pra casa, ele também não veio pra cá. Não há duvidas. Ele foi atrás dela de novo.

E agora? O que eu posso fazer? Nada. Sei que não posso fazer nada para impedir que ele se destrua, e se ele recaiu não foi por culpa de alguma coisa que fiz. Só peço a Deus que o livre de todo o mal, e que ele volte pra casa. Estou muito magoada e totalmente desacreditada desse amor que ele me jurou ontem.

Entrego nas mãos de Deus e peço direção nesse momento. Mas não quero tomar decisões agora. 

Hoje vou ficar em casa, ver meus filmes que gosto, ouvir minhas músicas, cuidar de mim. Hoje não vou permitir que a tristeza me domine e o medo me influencie. Hoje vou entregar nas mãos Daquele que sabe o que é melhor pra nós.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Amando um Dependente Quimico

Olá amigos e amigas.

Essa semana recebi um presente maravilhoso:


Fiquei feliz demais quando recebi! Já devorei uma boa parte. Veio num momento muito oportuno, diante de uma nova recaída.

Meu namorado passou 3 meses limpo. Agora fazem apenas 2 dias.

Eu estava cuidando do dinheiro dele, a pedido dele mesmo. Mas um dia antes de receber o adiantamento, ele pediu que eu devolvesse seu cartão, insistindo que estava bem, e queria comprar um celular. Ainda insisti pra que ele deixasse comigo, e no outro dia eu daria apenas o suficiente pro celular. Ele não quis. 

E como eu poderia negar? Afinal, o dinheiro é dele. E eu não posso controlar seus atos.

Naquele dia não senti nada de especial, nenhum mau pressentimento. Fui trabalhar tranquilamente e passei o dia assim, entertida em minhas atividades. Tinha combinado de passar na casa dele depois do serviço. Ele disse que ia me esperar. Estava todo animado que ia comprar o celular e ia poder me ligar. Mas não recebi nenhuma ligação naquele dia, e quando cheguei lá, só encontrei um quarto vazio e todo escuro.

Ele não estava. Saiu do serviço, passou em casa, deixou suas coisas lá, e saiu de novo. Ainda esperei até umas 23h, tentando negar a mim mesma que ele estava fazendo outra coisa, que não estava usando, que não estava jogando fora todo o seu dinheiro.

A gente faz esse tipo de coisa, né? Não quer acreditar que tudo foi por água abaixo de novo. Que teremos que recomeçar, de novo, e de novo. Voltar àquele árduo início.

Foi uma recaída leve, mas todo o adiantamento que recebeu foi jogado fora. Ele tinha tantos planos. Não vai poder realizar nenhum deles. Vai ter que esperar mais um mês. 

No dia seguinte, quando sai do serviço, fiquei super dividida se passava na casa dele, ou não. Mas como eu não tinha passado a noite lá, ainda não tinha certeza se ele acabou voltando pra casa, ou o que realmente tinha acontecido. Ainda não queria acreditar. Quando entrei pela porta, vi ele dormindo. Quando o chamei, e ele abriu os olhos, eu vi ela lá, a maldita droga, junto com todo o pesar, e culpa, e arrependimento que eles sentem depois. Não duvido do arrependimento dele, sei que ele se sente mal por ter feito o que fez, por ter cedido à tentação. Mas nada pode mudar os tristes fatos.

Eu sabia que era uma questão de tempo. Ele não está vivendo em recuperação. Ele não está indo às reuniões. Ele não está frequentando nenhuma igreja. Ele só não estava usando.

A família dele está bem distante. Estão todos cansados. Ele aprontou muito por lá. Eles não tem mais estrutura para aturar a dependência dele, nem vontade de mudar e se adaptar às necessidades dele. A casa dos seus pais nunca mais será um lar pra ele. 

Por outro lado, ele nunca esteve melhor em relação à minha família. Passamos um feriado de Ano Novo muito bom na praia com eles. A relação dele com meu pai melhorou muito. Eles todos sabem da doença dele, e estão começando a aceitar. Eles continuam na praia. Eles não sabem da recaída dele.

Foi só 1 noite. Ele não faltou o serviço no outro dia. Mas agora está triste, super pra baixo, desanimado, indeciso, sem paciência.

Quanto a mim, como já disse antes, eu já esperava. Acho que já estou calejada, se vocês me entendem. Dessa vez não derramei nenhuma lágrima, jantei quando cheguei em casa, dormi a noite toda, trabalhei normalmente no outro dia, e quando cheguei lá, não briguei. Não adianta brigar. Só serviria pra deixar ele pior, e liberar todos os sentimentos ruins que eu tentava controlar.

Orei muito a Deus para me dar a serenidade necessária para aceitar aquilo que não posso mudar. Não posso mudar o que aconteceu. Não posso controlar ele. Não posso curá-lo.

Ele não me escondeu nada. Me contou tudo o que fez. Eu o escutei, mas não fiz nenhum comentário. Ele disse que quer ir numa igreja, que precisa. Fomos juntos hoje de manhã. Pegamos a filha dele pra passar o fim de semana conosco. Fizemos janta ontem, rimos juntos com ela, brincamos com ela, a repreendemos quando precisou. Ela está numa fase bem teimosinha. Ele teve mais paciência com ela do que eu, hoje.

Mas eu falei pra ele não se enganar com a minha aparente calma. Não estou brigando e não estou de mal, não estou de cara feia. Mas a gente cansa. A cada recaída eu canso mais. A cada recaída eu penso o quanto ainda vale a pena continuar com isso.

Não adianta só não usar. Também não adianta só ir às reuniões e não buscar a direção de um Poder Superior. Assim como não adianta só o contrário. E ele não está buscando nenhum dos dois. Não sei se ele tem medo, ou tem preguiça, mas ele está muito vacilante em dar o primeiro passo.

Eu estou sempre com ele, o que ele decidir eu o apoio. Mas não posso pegar ele pela mãozinha e levar sempre nas reuniões, ou carregar até uma igreja. Isso tem que partir dele.

Graças a Deus eu tenho tido serenidade e calma para não enlouquecer com ele. Sigo com minhas funções e sigo bem comigo mesma. Mas essa vida é cansativa. 

Hoje sinto isso. Amanhã posso acordar com toda a força do mundo para continuar nessa viajem com ele. Só Deus sabe. E é nas mãos dEle que entrego todos os meus dias.

Polly, muito obrigada pelo presente. Você é incrível. Que Deus te abençoe sempre! Você merece!

Um grande beijo a todos!
Até mais!