Olá, olá, olá meus queridos.
Nossa, andei sumida mesmo.
Aconteceram tantas coisas que, tenho que admitir, me faltou muita vontade de vir até aqui e reviver tudo de novo. Mas hoje me sinto disposta a isso, porque hoje estou de bem. Estou de bem comigo mesma.
Minhas aulas já acabaram. Fui aprovada em todas as cadeiras. Numa ainda tive que fazer a prova de substituição. Não entreguei alguns trabalhos. Processos operacionais de produção não me atraem nenhum pouco, mas faz parte do currículo de administração. Então, não tem o que fazer, vamos encarar.
Enfim, passei e estou de férias.
Por outro lado, tenho trabalhado muito, muito mesmo. O meu emprego tem se mostrado beem trabalhoso e é bem puxado, e estressante muitas vezes. Mas me ajudou muito num período que precisei distrair a mente e os pensamentos.
É pessoal, passei trabalho com meu namorado adicto. Vocês que vem acompanhando meu blog sabem que ele ficou 3 meses internado numa Comunidade Terapêutica. Já fazem quase 5 meses que ele saiu, e ele vem se mantendo limpo a pouco mais de 1 mês. Mas desde que saiu não está em recuperação, como me prometeu.
Logo que ele saiu de lá, recaiu, e não conseguiu se manter muito tempo em serviço nenhum. Eu fui levando. Tive várias recaídas de comportamento também. Deixei de ir nas reuniões. Deixei de incentivá-lo a ir nas reuniões. Não cedi a algumas manipulações ridículas dele, mas cedi a tentação de ajudá-lo. Muitas vezes eles nem precisam pedir, não é?
Mas num certo dia, ele fez uma coisa pra qual não pude fechar os olhos. Ele pegou dinheiro meu, de dentro da minha casa, quando eu não estava em casa, sem a minha permissão. Eu nem sabia que ele sabia onde eu escondia. O que ele fez com o dinheiro? Não sei. Me contou mil histórias. Mas não me importava o que ele tinha feito com o dinheiro, e sim a atitude dele. Como eu poderia permitir que ele entrasse na minha casa de novo? Teria que ficar de olho em cada cômodo que ele fosse? Não deu. Terminei com ele.
Quando eu soube o que ele tinha feito, passei na casa dele. Ele não estava, óbvio. Deixei uma carta pedindo que ele não me procurasse mais, e que cada um deveria seguir sua vida, que eu não pudia aceitar o que ele tinha feito.
Compartilhei meus sentimentos e dores e angústias com minhas irmãs de recuperação. E com alguns companheiros dele. Recebi muita ajuda, e muito apoio, e muito carinho. Me preparei psicologicamente para vê-lo vivendo na rua, sem nada e sem ninguém. Mas tive que aprender que a dor ensina. E se eu quisesse vê-lo bem algum dia, eu teria que me afastar, pra deixar que ele aprendesse isso também.
Passaram-se inúmeros dias e eu não tive notícias. Eu não o procurei, e ele também não me procurou. Fazia a única coisa que pudia fazer por ele. Orar. Orava por ele todos os dias, e pedia sempre a Deus que se fizesse a Sua perfeita vontade.
Num dia, não aguentei e liguei pra mãe dele, porque eu nem a tinha comunicado que tínhamos terminado, e assumo que queria saber notícias dele. Ela não sabia de nada. E não tinha ouvido falar nada. Sempre que ele anda pelas bocadas de preferência dele, ela acaba sabendo, porque é perto da casa dela. Conversamos bastante, e ela ficou de me avisar caso soubesse de algo. Passaram-se alguns minutos após o término da ligação, e ela me ligou novamente. Mas para minha surpresa, era ele. Ele chorava no telefone, mas eu me mantive firme.
Não sei. Foi muita coincidência. Interpretei como um sinal de que deveria conversar com ele. No outro dia, ele veio aqui em casa, conversamos muito e decidimos voltar, mas não sem antes combinarmos algumas mudanças. Desde então, ele tem se mantido limpo, e está trabalhando. Vai fechar o primeiro mês inteiro no mesmo emprego, desde que saiu da Comunidade.
Ele está bem. Está tranquilo, e continua trabalhando, e temos feitos planos para o Natal e a Virada. Vamos passar o Reveillon na praia com a minha família, e vamos levar a filhotinha dele junto, para conhecer o mar. Estamos muito empolgados.
Queria compartilhar com vocês que, nesse período, aprendi que eles conseguem, sim, se virar sozinhos. Muitas vezes nós, familiares codependentes, é que não deixamos. Ficamos naquela neura de querer controlar tudo e todos, e abraçar os problemas de todo mundo, e achar que é nossa responsabilidade resolver. E aí acabamos exaustas, tristes e desanimadas e querendo colocar a culpa no outro.
Nós não podemos assumir a responsabilidade que é do outro. Cada um tem a sua. Eu tenho as minhas, e ele tem as dele. Se eles querem ter as coisas, nós não podemos dar. Funciona como educar uma criança. Enquanto os pais dão, a criança não dá o devido valor. Agora, quando a criança cresce e tem que trabalhar e suar pra comprar suas roupas, seus tênis, seu celular da moda, só aí vai dar valor, porque é fruto do seu trabalho. Tudo aquilo que vem fácil, fácil se vai. Eu não posso assumir a responsabilidade de pagar o aluguel dele. Se ele quer ter um teto sobre a cabeça, ele tem que trabalhar pra pagar, se não vai ficar na rua. E nós temos que estar preparados pra deixar.
Estou indo às reuniões e faço parte de um grupo maravilhoso, em que estão minhas irmãs de recuperação. Elas me dão o ombro pra chorar, aquele abraço maravilhoso pra animar. Aprendo muito com elas. E isso tem me dado forças pra me concentrar na MINHA recuperação. Porque a recuperação DELE depende unicamente dele.
Como falei anteriormente, ele só não está usando nada, mas não está vivendo a recuperação. Ele tem desvios de caráter ainda bem difíceis de lidar, incluindo um orgulho que ele ainda não pode se dar ao luxo de ter. Um exemplo: Muitas vezes acabo indo aos lugares ou eventos sozinha, porque ele diz que não tem um tênis decente pra me acompanhar. Hoje mesmo fui na festa de final de ano, onde se uniram todos os grupos de recuperação e suas famílias. Eu fui, mas ele não quis ir, porque não tinha roupa e nem tênis.
Fiquei muito frustrada e muito triste. Ele não se importou se era importante pra mim ou não. Só pensou nele. Bom, paciência. Ele ficou sozinho em casa, enquanto eu fui lá, revi todo o pessoal que já fez e faz parte da nossa recuperação, e me diverti bastante. Hoje não deixo mais de fazer o que quero por causa dele. Quantas vezes deixei de sair ou fazer algo que queria, ou que precisava, pra ficar colada nele, porque ele pudia sair e fazer besteira. Isso é perda de tempo. Se ele quiser mesmo, na primeira oportunidade ele vai fugir de mim. E o que eu faço com toda a frustração?
Sei que ele não está firme na recuperação. Sei que a qualquer hora ele pode ir atrás de novo. Mas a maior verdade é que se nós, familiares, não estivermos firmes, e bem, e saudáveis, não poderemos fazer nada por eles. Mas a nossa recuperação não é da noite pro dia. É gradativa. Antes eu ia às reuniões apenas pra trocar cartas, quando ele estava internado. Depois que me descobri codependente, eu ia às reuniões para aprender como lidar com ele, ou seja, tenho que estar bem pra poder ajudar ele. Vocês vêem? Ainda era só por ele.
Depois que passamos esse tempo separados, vi a necessidade que eu tinha de cuidar de mim mesma, porque se eu não me cuidasse, ninguém mais cuidaria. Hoje eu vou às reuniões porque gosto, porque me sinto bem, porque compartilho e aprendo, porque desabafo e ali encontro o conforto que meu coração precisa. Vêem a diferença? Não é mais por ele, é pela minha própria qualidade de vida, é por mim.
Continuo orando pelo meu namorado todos os dias, pra que ele se mantenha limpo. Sei que o "Só por hoje" funciona e entrego nas mãos de Deus. Sei que Ele, na sua infinita sabedoria e bondade, vai fazer acontecer o que for melhor pra ele e pra mim.
O que eu desejo pra mim, desejo a todos vocês. Múltiplas 24h.
"Coloco minha mão na sua e uno meu coração ao seu, para que juntos possamos fazer tudo aquilo que sozinho eu não consigo"
Só por hoje
Força!
Fé!
Fiquem com Deus!